Cultura Corporativa, última simplificação

AKTOUF, O. O simbolismo e a cultura de empresa: dos abusos conceituais às lições empíricas. In: CHALAT, J.F. (Coord.). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1994. 2v. p.39-79.

Para que os empregados de uma empresa possam viver unidos, formando uma família, uma única e mesma comunidade, em que todos sintam-se “abertos”, iguais e animados pelo mesmo credo, é preciso simplesmente que as condições concretas de existência na organização tenha um substrato afetivo e material real.

[...] para que uma superestrutura seja nutrida por crenças de comunidade, de igualdade, de fraternidade, de equidade, de comunhão de interesses, de convergências entre o ideal de si e o ideal a organização, é preciso primeiro que tudo isso seja experimentado e vivido materialmente.

Contornos dos elementos que podem ser favoráveis à constituição de uma “visão coletiva” no seio da empresa:

1. proximidade concreta e vínculos afetivos com os dirigentes (facilidade em dirigir a palavra aos dirigentes);

2 . ausência quase total de privilégios exclusivos;

3. ausência quase total, também, de sinais de distanciamento ou de diferença de status;

4. comportamentos habitual e exemplarmente generosos, justos e igualitários por parte dos dirigentes;

5. a empresa é, efetivamente, um local que existe participação e cooperação;

6. a empresa é, efetivamente, um local de partilha;

7. realização de cerimônias cujo teor e espírito estão em harmonia com a vida de trabalho e a vida social da empresa.

[...] afirma Toffler (1986), que os gerentes e patrões “se entreguem a uma dilacerante autocrítica”

O segredo é simples: a empresa é “oferecida” aos trabalhadores como um local de reapropriação por meio do acesso aos lucros, aos intrumentos de trabalho, às decisões (pelo menos as decisões locais), às ações, à palavra e a todos os recursos da organização.

Tabus de envergadura:

Intocabilidade do capital e o direito de gerar lucro, pela partilha dos resultados da empresa; é importante lembrar que esta partilha é feita antes das amortizações e dos impostos, o que faz com que os operários e empregados recebam parcelas de lucro mesmo quando a fábrica registra perdas contábeis;

Intocabilidade da informação, pela divulgação de todos os valores relativos aos “segredos” dos patrões como as vendas, as margens de lucro, os lucros, os projetos futuros, o anúncio de aquisições em estudo; e, finalmente,

Intocabilidade do ato de gestão, por meio da negociação, da consulta, da liberdade que os operários têm para organizar o trabalho e a supressão das funções de vigilância.

A “manipulação da subjetividade” que atinge até “a criatividade dos assalariados” [...] Tornar o explorado cúmplice de sua própria exploração é um sonho milenar. Estaríamos aproximando-nos disso?